Dia 6: Desapegando da decor da casa

Quando falei no episódio 01 que as pessoas sempre elogiaram muito minha casa e que ela parecia casa de revista, sempre encarei como um baita elogio e sensação de venci na vida, mas essa sensação tem um fundo emocional grande que quero compartilhar com vocês.
Minha família sempre foi muito pobre. Minha mãe que, sozinha, criou os filhos e ainda precisava trabalhar à noite como camareira em um motel para ter um salário um pouco melhor, fez de tudo para que eu e meu irmão não sentíssemos o cansaço emocional que ela sentia em ter que economizar no almoço para ter um jantar.
Eu tinha 10 anos quando as coisas estavam ainda piores e fomos morar em uma casa de dois cômodos que ficava em um grande quintal na Zona Sete em Maringá, Paraná. Nesse quintal ainda tinham mais cinco casas, dessas de madeira bem antiga e todas compartilhavam um banheiro que ficava nos fundos. Engraçado que só hoje, adulta, percebo a dificuldade que vivíamos, na época eu simplesmente amava nosso quintal imenso, com árvores enormes dessas que crianças amam subir, mesmo que as mães fiquem doidas de medo. eheehe
Foram anos muito difíceis, que melhoraram um pouquinho quando fomos morar numa casa de três cômodos nos fundos da casa de uma tia na zona norte da cidade. A casa de piso vermelhão tinha estações bem definidas, telhado Eternit, sem forro, era uma sauna no verão e o gelo do polo norte no inverno. Porém era uma casa que tinha um cômodo só para a sala e eu amava limpar, mudar móveis de lugar e sempre tentar deixá-la com uma cara melhor. Tínhamos um jogo de sofá reformado em "corino" sintético floral, que parecia estar descolando uma fita crepe do corpo caso sentasse sem um lençol protegendo. Tinhas também uma estante dessas antigas com muitas portas e nichos para guardar tudo que pudesse, mas o calor era tanto que ninguém suportava ficar lá, preferíamos o quintal.
Mas foi aos 16 anos que nos mudamos para uma casa de quatro cômodos, um paraíso na Terra: sala, cozinha, banheiro azulejado moderninho pra época, DOIS quartos, meu Deus há quanto tempo não sabia o que era dividir um quarto só com meu irmão e minha avó. Eu amava aquela casa, ficava no Ney Braga, ainda em Maringá. Conseguimos enfim trocar aquele sofá grudento para um sofá de tecido e a estante por um rack lindo nas Casas Bahia. Colocamos cortinas na sala, espelho e uma mesa redonda de vidro com quatro cadeiras que que ganhamos de uma vizinha que não queria mais.
Era a sala perfeita. Tinha uma TV de 14 polegadas, um aparelho de som com CD que ganhei de presente de um ex-namorado da minha mãe e tinha ESPAÇO pra dançar!!! Gente, era real, o paraíso!
Estou contando isso pra vocês porque esse "background" explica o meu apego por decoração na vida adulta. Eu nunca pude ter nada daquilo que apareciam nas revistas, e pensava que quando eu tivesse eu seria uma pessoa que "chegou lá".
""Eu queria que todo mundo tivesse uma casa de revista para perceber que eles não precisam de nada daquilo."
Corta para 2019, eu olho pra minha casa de 98 metros quadrados (escritório, varanda gourmet e QUATRO banheiros) e não vejo sentido algum. Tem uma frase famosa do Jim Carey que é mais ou menos assim: "Eu queria que todo mundo fosse rico e famoso para saber que eles não precisam" e não tem frase melhor para explicar esse sentimento que estou hoje, poderia inclusive, traduzi-la para a casa assim: "Eu queria que todo mundo tivesse uma casa de revista para saber que eles não precisam". Eu precisei TER pra perceber que não fazia sentido ter tanta coisa, o que é completamente ridículo, mas quem me alertou sobre isso nos últimos anos? Ninguém! Eu e você passamos os últimos anos sendo impactadas por mais e mais imagens de casas perfeitas, de novos eletrodomésticos de última geração, tendências dizendo que tudo que você tem na sua casa está fora de moda. POR DEUS!
Se você tá passando por essa fase aí e sentiu que "jogou saúde mental e dinheiro demais no lixo" sinta-se abraçada!
Mas vamos lá! A Série CASA MINIMALISTA é mais do que destralhar a casa, é para te ajudar a refletir sobre o que realmente é necessário na sua vida. Na minha casa também ficaram peças emocionais, coisas que me fazem felizes e que carregam boas lembranças. Você pode ter seus eletrodomésticos, assim como tenho os meus (e como facilitam minha vida!). A jornada aqui é mais para te ajudar a deixar ir o que não significa nada além de decoração vazia.
Assista como foi aqui em casa esse dia: